Atletas intersexo no cenário esportivo

Autores

  • Bruna Silveira Chaves Universidade Federal de Juiz de Fora
  • Ludmila Nunes Mourão Universidade Federal de Juiz de Fora

Palavras-chave:

Intersexo, Corpo, Esporte, Sexo/Gênero, Regulação esportiva

Resumo

Intersexo é o termo usado para designar variedades de condições congênitas em que a anatomia não se conforma com o padrão de masculinidades e feminilidades entendidos como típicos para homens e mulheres. As pessoas com variações intersexo desestabilizam os padrões normativos que fundamentam a sociedade. Assim, a sociedade não reconhece o intersexo como mais uma variação sexual, mas como condição patológica, resultando numa vida marcada por um governamento e gestão de seus corpos para que eles possam se adequar à norma binária de definição de sexo/gênero. No cenário esportivo em que a separação dos sexos é entendida como uma questão fundamental, em nome da igualdade de condições – fairness – os corpos, em especial os corpos intersexo, que borram as fronteiras entre o masculino e o feminino, e ameaçam o funcionamento e a manutenção das estruturas patriarcais, são investigados e por vezes, cassados das competições. Assim, o artigo investigou os processos de subjetivação de atletas intersexo a partir da inserção, trajetória e acometimentos de suas carreiras esportivas. Para isso, o trabalho buscou histórias de atletas intersexo do alto rendimento expostos pela mídia e literatura, abordando as relações que emergem da prática, ao longo dos anos, de políticas de verificação de sexo/gênero e de regulamentos de elegibilidade feminina com hiperandrogenismo. Como caminhos metodológicos, a pesquisa qualitativa, analisou a documentação, a literatura, as reportagens da mídia sobre os casos de atletas intersexo. As análises dos dados levantados possibilitaram entender a importância de desconstruir os padrões sociais e culturais que regem o mundo, em especial no campo da sexualidade, para que pessoas com corporalidades diversas possam existir e ganhar legitimidade e pertencimento. No esporte, a gestão dos corpos não é pautada no desempenho, mas nas suas corporalidades e a manipulação dos corpos atletas, em especial os com hiperandrogenia, figura-se como violência que se apoia em regimes de verdades e práticas discursivas. O esporte ainda se configura um lugar de exclusão para as pessoas intersexo, que precisam manter sua condição velada para que possam continuar na prática. É urgente e necessário (re)conhecer o sujeito intersexo como uma identidade tão legitima quanto às existentes.

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Publicado

2024-10-20

Como Citar

CHAVES, Bruna Silveira; MOURÃO, Ludmila Nunes. Atletas intersexo no cenário esportivo. Revista Carioca de Educação Física, [S. l.], v. 19, n. 1, p. 12–22, 2024. Disponível em: https://revistacarioca.com.br/revistacarioca/article/view/146. Acesso em: 24 mar. 2025.

Edição

Seção

Artigos