Atletas intersexo no cenário esportivo
Palavras-chave:
Intersexo, Corpo, Esporte, Sexo/Gênero, Regulação esportivaResumo
Intersexo é o termo usado para designar variedades de condições congênitas em que a anatomia não se conforma com o padrão de masculinidades e feminilidades entendidos como típicos para homens e mulheres. As pessoas com variações intersexo desestabilizam os padrões normativos que fundamentam a sociedade. Assim, a sociedade não reconhece o intersexo como mais uma variação sexual, mas como condição patológica, resultando numa vida marcada por um governamento e gestão de seus corpos para que eles possam se adequar à norma binária de definição de sexo/gênero. No cenário esportivo em que a separação dos sexos é entendida como uma questão fundamental, em nome da igualdade de condições – fairness – os corpos, em especial os corpos intersexo, que borram as fronteiras entre o masculino e o feminino, e ameaçam o funcionamento e a manutenção das estruturas patriarcais, são investigados e por vezes, cassados das competições. Assim, o artigo investigou os processos de subjetivação de atletas intersexo a partir da inserção, trajetória e acometimentos de suas carreiras esportivas. Para isso, o trabalho buscou histórias de atletas intersexo do alto rendimento expostos pela mídia e literatura, abordando as relações que emergem da prática, ao longo dos anos, de políticas de verificação de sexo/gênero e de regulamentos de elegibilidade feminina com hiperandrogenismo. Como caminhos metodológicos, a pesquisa qualitativa, analisou a documentação, a literatura, as reportagens da mídia sobre os casos de atletas intersexo. As análises dos dados levantados possibilitaram entender a importância de desconstruir os padrões sociais e culturais que regem o mundo, em especial no campo da sexualidade, para que pessoas com corporalidades diversas possam existir e ganhar legitimidade e pertencimento. No esporte, a gestão dos corpos não é pautada no desempenho, mas nas suas corporalidades e a manipulação dos corpos atletas, em especial os com hiperandrogenia, figura-se como violência que se apoia em regimes de verdades e práticas discursivas. O esporte ainda se configura um lugar de exclusão para as pessoas intersexo, que precisam manter sua condição velada para que possam continuar na prática. É urgente e necessário (re)conhecer o sujeito intersexo como uma identidade tão legitima quanto às existentes.
Referências
Batelaan, Krystal; Abdel-Shehid, Gamal. On the Eurocentric nature of sex testing: the case of Caster Semenya. Social Identities, 2020.
Batista, Guilherme Borges; Camargo, Wagner Xavier. Regimes de controle no esporte: das mulheres aos corpos trans/intersexo. Recorde, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 1-27, jul./dez., 2020.
Brömdal, Annette. The phantom category of ‘Intersex’ in elite sports: knowledge about ‘Disturbing’ female bodies and athletic performances Doctor in Philosophy. Faculty of Education of Monash University, Australia, May, 2013.
Cabral, Mauro; Benzur, Gabriel. Cuando digo intersex: un diálogo introductorio a la intersexualidad. Cadernos Pagu (24), Campinas-SP, Núcleo de Estudos de Gênero-Pagu/Unicamp, p.283-304, 2005.
Elsas, Louis J.; et al. Gender verification of female athletes. Genetic in medicine, v. 2, n. 4, p. 249-254, Julho/Agosto, 2000.
Ferguson-Smith, Malcolm A.; Bavington, L. Dawn. Natural selection for genetic variants in sport: the role of Y chromosome genes in elite female athletes with 46, XY DSD. Sports Med. V. 44(12), p. 1629-34. Dez., 2014.
Fischer, Rosa Maria Bueno. Problematizações sobre o exercício de ver: mídia e pesquisa em educação. Revista Brasileira de Educação. nº 20, Maio/Jun/Jul/Ago, p83-154, 2002.
Fischer, Rosa Maria Bueno. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, FCC/Autores Associados, nº 114, p. 197-223, 2001.
Francisco, Waleska Vigo; Rubio, Katia. O corpo utópico: de Sálmacis às atletas intersexo. In: Rubio, Katia, Camilo, Juliana A. Oliveira (orgs) Psicologia Social do Esporte. São Paulo, Képos, 2019.
Goellner, Silvana Vilodre. Jogos Olímpicos: a generificação de corpos performantes. Revista USP, n. 108, p. 29-38, jan./fev./mar., 2016.
Jensen, Marisa; Schorer, Jörg; Faber, Irene R. How is the Topic of Intersex Athletes in Elite Sports Positioned in Academic Literature Between January 2000 and July 2022? A Systematic Review. Sports Medicine- Open. Vol. 8:130. 2022.
Karkazis, Katrina; Carpenter, Morgan. Impossible, “choices”: the inherent harms of regulating women’s testosterone in sport. Journal Bioethic Inquiry. v.15(4), p.579–87., 2018.
Leivas, Paulo Gilberto Cogo; Resadori, Alice Hertzog; Schiavon, Amanda de Almeida; Vanin, Aline Aver; Vieira, Amiel Modesto; Reis, Thiago Souza; Machado, Paula Sandrine. Intersexualidade e o tensionamento do critério proibido de discriminação sexo. Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p.2057-2079, 2023.
Lopes, Jorge. Fazer do trabalho científico em ciências sociais aplicadas. Recife: Editora Universitária UFPE, 2006.
Lüdke, Menga; André, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. Rio de Janeiro: E.P.U., 1986.
Mahomed, Safia; Dhai, Ames. Global injustice in sport: The Caster Semenya ordeal - prejudice, discrimination and racial bias. S Afr Med J. V. 26; n. 109(8), p. 548-551, Jul., 2019.
Passos, Adriano M. Rodrigues. Arqueogenealogia das interdições, separações e segregações de sexo/gênero nos esportes: o jogo discursivo sobre as mulheres. Dez., 2020, 505 f. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Faculdade de Ciências Sociais. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, 2020.
Pires, Barbara Gomes. O legado das regulações esportivas: diagnóstico e consentimento na elegibilidade da categoria feminina. Sexualidad, Salud y Sociedad, Rio de Janeiro, n. 35, p. 283-307, ago. 2020.
Pires, Barbara Gomes. Distinções do desenvolvimento sexual: percursos científicos e atravessamentos políticos em casos de intersexualidade. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015.
Pires, Barbara Gomes. Pânicos de gênero, tecnologias de corpo: regulações da feminilidade no esporte. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 2, e79320, 2021.
Silveira, Viviane Teixeira; Vaz, Alexandre Fernandez. Doping e controle de feminilidade no esporte. Cadernos Pagu, Campinas, n. 42, p. 447-475, Jun. 2014.
Silveira, Viviane Teixeira. Tecnologias e a mulher atleta: novas possibilidades de corpos e sexualidades no esporte contemporâneo. Tese (doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Florianópolis, 2013.
Wiesemann, Claudia. Is there a right not to know one's sex? The ethics of 'gender verification' in women's sports competition. J Med Ethics. V. 37, n.4, p. 216-220. Apr., 2011.
Wonkam, Ambrosie; Fieggen, Karen; Ramesar, Ray. Beyond the Caster Semenya controversy: the case of the use of genetics for gender testing in sport. Journal Genet Couns. v. 19, n.6, p. 545-8. Dec, 2010.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Bruna Silveira Chaves, Ludmila Nunes Mourão

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Proposta de Aviso de Direito Autoral Creative Commons
1. Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).